Restaurantes criados por imigrantes mostram como a cozinha estrangeira se tornou ponte entre tradição, identidade e curiosidade gastronômica
A expansão da cozinha estrangeira no Brasil revela um movimento que vai além do paladar. Bares e restaurantes criados por imigrantes passaram a ocupar espaço relevante nas grandes cidades, trazendo novos sabores e novas narrativas para o setor de alimentação fora do lar. Em São Paulo e Belo Horizonte, empreendimentos como o Macondo Raízes Colombianas e o Malewa Food exemplificam como a cozinha estrangeira atrai consumidores, aproxima culturas e combate estereótipos.
O cenário também é favorecido por um momento de otimismo no setor. O setor de alimentação fora do lar chega ao último trimestre com perspectivas positivas, impulsionado pelas confraternizações de empresas, encontros familiares e celebrações das próximas semanas.
Segundo levantamento da Abrasel, 81% dos empreendedores esperam aumento no faturamento em relação ao mesmo período do ano passado, e para a maioria esse crescimento deve ser de pelo menos 10%. A melhora já aparece nos indicadores de outubro, quando o percentual de empresas no prejuízo caiu para 20%, enquanto 40% tiveram lucro, de acordo com a Pesquisa de Conjuntura Econômica da entidade. O Índice Abrasel-Stone também apontou aumento de 1,6% nas vendas na comparação com setembro.
Esse ambiente mais favorável abre espaço para que cozinhas estrangeiras se consolidem e encontrem público disposto a experimentar novos sabores.
A saudade que vira cozinha estrangeira e encontra espaço no Brasil
O Macondo Raízes Colombianas nasceu em 2014, quando o chef colombiano Jair Rojas percebeu que São Paulo, apesar de sua fama gastronômica, tinha poucas opções de cozinha estrangeira da Colômbia. “Ele nasceu no final de 2014 como uma necessidade pessoal de encontrar comida colombiana aqui na cidade”, conta. O início foi como barraca de rua, inspirado na Macondo dos livros de Gabriel García Márquez. A partir dali, a cozinha estrangeira colombiana encontrou público fiel.
Em Belo Horizonte, a trajetória de Princess Kambilo segue caminho semelhante. Congolesa, ela encontrou na cozinha estrangeira do Congo uma forma de se sustentar e de representar sua cultura. “A saudade da comida de casa foi o ponto de partida. Quando percebi que podia compartilhar esses sabores e ainda ter uma renda como mãe solteira, decidi criar o Malewa”, diz.
O acolhimento dos brasileiros foi determinante. “O que mais me surpreendeu foi a vontade das pessoas de experimentar novos sabores. Os brasileiros são muito abertos”, afirma Princess. Essa abertura explica por que a cozinha estrangeira se espalha com força no país e se torna cada vez mais presente nos cardápios urbanos.
Entre adaptações e tradições, a cozinha estrangeira transforma percepções
Mesmo em cidades com oferta diversificada, trazer a cozinha estrangeira para o Brasil ainda exige adaptação. Jair explica que importar ingredientes colombianos é caro e burocrático, o que obriga o restaurante a buscar equivalências. “Mesmo sendo países vizinhos, é muito difícil ter produtos da Colômbia por causa dos impostos”, detalha. Quando não é possível alcançar o sabor tradicional, o prato não entra no cardápio.
Princess vive lógica parecida. “A maior dificuldade era encontrar ingredientes específicos. O segredo é como misturar esses ingredientes para ter um sabor diferenciado da terra mãe”, afirma. Assim, a cozinha estrangeira se adapta, preserva técnicas e reinventa receitas sem perder a identidade.
Entre os pratos mais emblemáticos do Macondo estão a Bandeja Paisa, as arepas e os patacones, que sintetizam a riqueza da cozinha estrangeira colombiana. No Malewa, os temperos africanos criam combinações intensas e marcantes. “A comida congolesa é uma experiência única”, diz Princess.
Mas a cozinha estrangeira não transforma apenas o paladar. Ela muda olhares. “A culinária africana é muito mais do que ‘comida exótica’. Cada receita carrega histórias e tradições”, afirma Princess, destacando o papel social da gastronomia.
Jair observa mudança semelhante em relação à Colômbia. “Os olhos do brasileiro mudaram totalmente. Agora perguntam por Shakira, pelo café, por García Márquez, pelas praias”, relata. O interesse crescente mostra como a cozinha estrangeira se torna porta para um novo entendimento cultural.
Quando o cliente experimenta pela primeira vez, o impacto é imediato. “É muito positivo ver como as pessoas são abertas para experimentar coisas novas”, diz Jair. Princess resume o sentimento: “Saber que estamos compartilhando um pedacinho do Congo é muito gratificante”.
Cozinha estrangeira fortalece vínculos culturais e amplia experiências
A cozinha estrangeira que se espalha pelo Brasil cumpre função que ultrapassa a gastronomia. Ela aproxima países vizinhos, resgata identidades, amplia repertórios e cria pontos de encontro entre culturas. Nos restaurantes de Jair e Princess, os clientes não consomem apenas refeições, mas histórias, memórias e afetos.
O resultado é a formação de públicos diversos. Imigrantes que buscam sabores da infância, brasileiros curiosos que querem explorar novas tradições e famílias afrodescendentes que encontram na cozinha estrangeira uma forma de reconexão cultural.
A partir dessa dinâmica, a cozinha estrangeira ganha relevância como fenômeno social e gastronômico. Ela revela como a comida pode ser linguagem, ponte e acolhimento, e como pequenos empreendedores transformam cidades por meio de pratos que carregam o mundo dentro.






















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