Nos anos 90, quando a música surfava entre guitarras distorcidas e batidas eletrônicas frenéticas, um som estranho e luminoso tomou a Europa de assalto. Era como se um coro de monges tivesse sido arremessado dentro de um sintetizador espacial. Assim nasceu o Era, um dos projetos mais misteriosos e fascinantes da música global.
Enquanto o planeta tentava entender de onde vinha aquela mistura de canto medieval e eletrônica futurista, o Era vendia 12 milhões de cópias e se tornava lenda sem ao menos mostrar um rosto.
O canal Cultura Nostálgica costura essa história cheia de sombras, teorias improváveis e uma revelação final que parece saída de um romance fantástico, mas é pura realidade.
O Fenômeno Inexplicável de “Ameno”
Em 1996, uma música rodopiou pelas rádios europeias com a delicadeza de um feitiço antigo. Chamava-se “Ameno”. A canção parecia escrita em um idioma esquecido pelos séculos: meio latim, meio sonho, meio invenção.
A melodia carregava o tom solene de monges em procissão, enquanto um pulso eletrônico moderno guiava tudo por baixo. O resultado hipnotizou o continente.
“Ameno” atingiu o topo das paradas em 40 países, vendeu milhões e, de quebra, lançou um enigma:
Nenhuma foto. Nenhuma entrevista. Nenhum show.
Produtores ofereciam fortunas. Festivais imploravam. Televisões aguardavam.
O Era apenas recusava. E assim o silêncio virou combustível para a imaginação.
As Teorias Mais Absurdas
Com zero informações oficiais, o público fez o que sabe fazer melhor: criou histórias.
E não eram histórias pequenas.
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Monges Beneditinos Rebeldes: Muitos juravam que monges gravavam escondidos em mosteiros, quebrando votos de silêncio para produzir hits.
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Seita Oculta: Havia quem acreditasse que as músicas eram feitiços invertidos, uma espécie de “latim sombrio” mascarado por harmonias divinas.
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Projeto do Vaticano: Outra teoria dizia que a Igreja financiava tudo em segredo para reconquistar a juventude.
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Vozes Angelicais Reais: A mais delirante: as vozes não eram humanas, mas canalizadas por médiuns que captavam cânticos de outros planos.
O Era virou terreno fértil para o imaginário popular, e cada silêncio era um convite para mais uma lenda.
O Boom no Brasil com Um Anjo Caiu do Céu
Em 2001, o mistério ganhou um novo capítulo tropical. A TV Globo escolheu “Divano”, outra faixa do Era, como tema da novela Um Anjo Caiu do Céu.
Diariamente, milhões ouviam aquele canto etéreo enquanto Caio Blat aparecia como o anjo Rafael. O Brasil embarcou de cabeça no enigma:
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O CD da trilha esgotou em uma semana.
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Igrejas debatiam se aquilo era música de evangelização ou algo perigoso, escondido sob camadas de luz.
Nunca uma canção tão incompreensível moveu tantos sentimentos por aqui.
Eric Lévi: O Homem Que Criou o Mistério
Depois de tantos boatos, a verdade veio à tona: Era não era um grupo secreto.
Não eram monges.
Não eram anjos.
Não era uma seita.
Era uma pessoa só: o músico e produtor francês Eric Lévi.
E sua biografia já valeria uma história à parte. Antes de criar o som angelical que conquistaria o mundo, Lévi tocava em uma banda de glam rock nos anos 70, com macacões de couro e maquiagem brilhante. Nada mais distante da aura monástica do Era.
Em 1994, ele decidiu unir suas referências: música clássica, cantos medievais e a eletrônica dos velhos tempos de palco. Passou meses trancado em estúdio, estudando técnicas vocais ancestrais e, principalmente, criando uma língua inventada, feita para provocar a sensação de profundidade espiritual, mesmo sem significar nada literalmente.
“Ameno”, “Dorime”, “Latiremo” eram sons construídos para tocar o coração, não o dicionário.
E o mais surpreendente: muitos dos “coros” eram apenas Lévi multiplicando a própria voz dezenas de vezes, até parecer um exército de monges ecoando pela eternidade.
O Anonimato Como Arte
A decisão de não mostrar o rosto não foi acaso. Foi estratégia.
Lévi sabia que, ao se revelar, quebraria o encanto. Enquanto ninguém sabia quem ele era, o Era podia ser tudo: um coro sagrado, um ritual oculto, um fragmento do além.
Entre 1996 e 2003, o projeto lançou três álbuns e ultrapassou a marca de 6 milhões de cópias vendidas só nesse período. Quando a internet amadureceu, a magia começou a ruir. Google, fóruns e Wikipedia montaram o quebra-cabeça. E o mistério se dissolveu aos poucos.
Mesmo assim, o Era deixou um rastro luminoso na cultura pop. Um lembrete de que, às vezes, a imaginação do público cria mundos mais poderosos do que qualquer verdade histórica.
O Legado de Uma Fábula Sonora
O Era encantou porque nunca explicou nada. E o silêncio dele permitiu que cada ouvinte inventasse seu próprio significado.
A música não dizia frases reais, mas falava direto com algo profundo. Fé, transcendência, calma, curiosidade. Para cada pessoa, um sentido diferente.
E, no fim, o projeto de Eric Lévi mostrou uma verdade simples, mas poderosa:
Às vezes, o mistério vale mais do que a resposta.






















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