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Making of CD Poetas da Mata Norte - Zé de Teté

O redemoinho de sons exuberantes dos caboclos de lança do maracatu de baque solto, das alegres e contagiantes rodas de coco ou de ciranda que irrompem a paisagem bucólica da Zona da Mata Norte de Pernambuco, região que desponta para o cenário local como nascedouro e berço de várias manifestações populares, como as citadas e também as sambadas e o cavalo-marinho, ganha um importante registro em CD com a realização do projeto Poetas da Mata Norte, que lança, em julho, seis álbuns, sendo dois de ciranda, dois de coco e dois de maracatu de baque solto. O nome da coletânea traz o conceito de "poetas" e não de músicos, o mais comum de se imaginar. "Eles são poetas. Mesmo que musicalmente harmonizadas, o que está posto naquelas brincadeiras é poesia pura; a tradição popular da poesia oral rimada, que apenas vem sustentada pela melodia", explica o músico pernambucano Siba, que aparece no meio deste cenário como idealizador do projeto -- verdadeiro guardião de tradições vivas. Também anuncia: são os artistas populares que protagonizam os discos. O que poderia ser um mero aproveitamento da criação poético-musical e brincante daquele povo tornou-se a reconhecença aos poetas que fazem a tradição acontecer. 

A coletânea, além de fazer com que os poetas sejam celebrados, especialmente pelo público recifense, "com quem têm uma relação afetiva intensa, mas não reconhecedora", segundo Siba, legará um excelente patrimônio material para os artistas: as matrizes e os direitos sobre o material -- Siba não terá nenhuma participação nos lucros com a venda do álbum. Dele também participarão os coquistas Zé de Teté, de Limoeiro, com o coco de roda, Antônio Caju & Caetano da Ingazeira, de Aliança, que vêm com o coco de embolada; e os maracatuzeiros João Paulo & Barachinha e Antônio Roberto, todos de Nazaré da Mata. Lacuna -- As informações trazidas por Siba, resultante muito mais do ouvir e do cantar ciranda nos terreiros, da convivência com mestres cirandeiros da Zona da Mata Norte do que da investigação com rigor acadêmico, preenche uma lacuna importante sobre o folguedo. Entre as poucas pesquisas que se tem notícia no país, uma foi publicada no livro Ciranda, roda de adultos no folclore pernambucano (1960), que também conta com partituras dos versos, pelo Padre Jaime Diniz, que além de pároco da Igreja da Harmonia, em Casa Amarela (Recife-PE), era professor de música e musicólogo. Ignorado até por dicionaristas como Pereira da Costa, no seu Vocabulário Pernambucano; Antônio Joaquim Macedo Soares, no Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa; Gonçalves Dias, no Dicionário da Língua Tupi, entre outros, o termo "Ciranda", de acordo com as pesquisas do Pe. Jaime Diniz, tem origem espanhola e vem de "zaranda", que é um instrumento de peneirar farinha, joeirar cereais; "deve-se ao fato, também, das mulheres trabalharem juntas em serões, daí 'seranda'". 

Diniz deixou um único livro sobre o tema, mas fundamental para se entender a origem e a difusão da brincadeira, principalmente em Pernambuco. Ele afirma que o folguedo era praticado na corte portuguesa, onde era cantado e bailado: "A ciranda é uma dança típica de adultos, nada tem a ver com a 'ciranda, cirandinha' infantil. É de origem portuguesa, veio para o Brasil provavelmente no século 18, junto com o pastoril. Aqui se dança principalmente na Mata Norte, de onde desceu para o litoral, há uns poucos anos. É conhecida há muitos anos em Timbaúba, Paulista, Carpina, Goiana, Limoeiro, Nazaré da Mata, Cruz de Rebouças, Paudalho". O projeto Poetas da Mata Norte devolve à região o reconhecimento da origem brasileira da brincadeira. "A ciranda de Engenho acontecia de forma intensa nos anos 50 do século passado, na (zona da) Mata Norte. Mas era uma ciranda diferente, com um ritmo mais acelerado. Não tinha músicos; era só o mestre cirandeiro puxando o coro. Com o êxodo rural, a ciranda chega ao ambiente urbano e assimila outras informações, ganhando um ritmo mais amarrado, o rigor da rima e da métrica, a variedade de assuntos. Também são inseridos os instrumentos tarol e bombo", complementa Siba do site www.continentemulticultural.com.br

Por Isabelle Câmara


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