Observa-se um movimento mundial crescente pela utilização do hidrogênio de baixo carbono como substituto aos combustíveis fósseis, especialmente a partir da guerra entre Rússia e Ucrânia. A produção de hidrogênio tornou-se peça-chave para a transição energética, e o Brasil, com sua abundância de recursos renováveis, tem um enorme potencial nesse campo. Embora a eletrólise da água seja uma rota conhecida para a produção de hidrogênio, outras alternativas igualmente promissoras, como a reforma do etanol, devem ser exploradas.
O etanol, especialmente o produzido a partir da cana-de-açúcar, é uma matéria-prima renovável e abundante no Brasil. Somos o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo e o segundo maior produtor do biocombustível, atrás dos Estados Unidos, que utilizam milho como matéria-prima. Esse recurso coloca o país em uma posição privilegiada para explorar a reforma desse combustível vegetal como forma de produzir hidrogênio renovável. Esse processo envolve a conversão do etanol em hidrogênio e outros subprodutos, utilizando catalisadores e calor.
Um exemplo notável dessa tecnologia é o projeto da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Shell Brasil, Raízen, Hytron e Senai CETIQT. Eles estão desenvolvendo uma estação experimental para a produção de hidrogênio a partir do etanol. O projeto é fundamental para validar o uso deste como matéria-prima para hidrogênio renovável, demonstrando sua viabilidade econômica e ambiental no contexto brasileiro. Além disso, o etanol pode ser transportado em sua forma líquida, facilitando a exportação e a conversão em hidrogênio renovável em outros países.
Não podemos deixar de mencionar que a produção de etanol de segunda geração, utilizando resíduos como o bagaço de cana, exemplifica uma prática de economia circular. Este processo não só aumenta a eficiência da produção do biocombustível, mas também gera biochar, um subproduto que pode ser aplicado ao solo para melhorar sua qualidade e sequestrar carbono. Ou seja, tanto a cana-de-açúcar quanto seus resíduos podem ser utilizados para geração de hidrogênio renovável e ainda beneficiar o solo.
O Brasil já possui uma infraestrutura robusta para a produção e distribuição desse combustível renovável, o que reduz significativamente os custos associados ao transporte e armazenamento de hidrogênio. Com o desenvolvimento contínuo de tecnologias e a implementação de políticas de incentivo, a produção de hidrogênio via reforma do etanol pode se tornar uma opção competitiva e sustentável, contribuindo significativamente para a descarbonização da matriz energética do país.
Portanto, é essencial que o Brasil explore e invista nessas alternativas, aproveitando nossa riqueza em recursos renováveis e infraestrutura existente, incluindo gasodutos. Isso não só ajudará a reduzir nossas emissões de carbono, mas também posicionará o Brasil como um líder global na produção de hidrogênio de baixo carbono, promovendo uma transição energética sustentável e eficiente.Andrea Villaça
é graduada em Administração, com MBA em Gestão de Negócios e pós-graduação em Formas Alternativas de Energia. Tem sólida experiência em governança corporativa, assuntos regulatórios e energias renováveis. É Conselheira de Administração na ABHAV – Associação Brasileira de Hidrogênio e Amônia Verdes e CEO da ALV Consultoria.Sobre a ABHAV Associação Brasileira de Hidrogênio e Amônia Verdes
A ABHAV foi fundada em fevereiro de 2023 como resultado de um comitê formado por mais de 60 empresas de diversos setores, interessadas pelo tema de hidrogênio de baixo carbono e derivados. O comitê se consolidou como uma associação dedicada ao avanço de um mercado mais sustentável ambientalmente.
A Associação Brasileira de Hidrogênio e Amônia Verdes reúne profissionais e empresas interessados no desenvolvimento do mercado de Hidrogênio e Amônia de baixo carbono, fundamentais na transição energética em escala Nacional e Global desde a sua produção até o consumo, abrangendo todas as fontes e rotas de baixo carbono. Seu objetivo é aprimorar e fomentar o desenvolvimento desses setores, fortalecendo o uso de energias renováveis, representando o setor perante os órgãos governamentais, protegendo e defendendo seus interesses.
Em fevereiro de 2024, a ABHAV formalizou sua adesão ao Pacto Brasileiro pelo Hidrogênio Renovável que reúne outras quatro entidades representantes do setor privado em um acordo de cooperação para acelerar o desenvolvimento do mercado brasileiro de hidrogênio renovável. O Pacto tem objetivo de impulsionar a descarbonização e a competitividade da economia brasileira.
A ABHAV reconhece o enorme potencial do hidrogênio de baixo carbono como vetor energético limpo e versátil. Sua produção a partir de fontes renováveis contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa e para a construção de um futuro mais sustentável.
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