Ao viver uma forte emoção, o corpo libera hormônios que aceleram a frequência cardíaca, aumentam a pressão arterial e levam à sensação de que o coração está “na boca”. No país do futebol, esses episódios têm data e hora marcada: de quatro em quatro anos no momento em que a seleção brasileira entra em campo para disputar a Copa do Mundo. Porém, nem sempre esse impacto na circulação é inofensivo e, especialmente em pessoas que já vivem com problemas cardiovasculares, pode ser grave.
É o que pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) decidiram avaliar com base nos registros de infarto agudo do miocárdio (IAM) durante as copas: existe um aumento na hora dos jogos do Brasil? Surpreendentemente ou não, a resposta é sim. Com base nos dados dos Sistemas de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS), gerenciados pelo Ministério da Saúde, eles observaram que as disputas levam a um aumento de 4% a 8% nos casos de infarto.
Para isso, analisaram os registros no período de maio a agosto, de 1998 a 2010, comparando a incidência durante os jogos e em períodos de normalidade, entre pessoas com mais de 35 anos. A boa notícia é que no estudo, publicado na revista científica Arquivos Brasileiros de Cardiologia, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), eles não constataram alterações na mortalidade, apenas o leve aumento nos episódios.
Os pesquisadores não observaram a fundo o perfil dos acometidos, mas consideram que a probabilidade é que aqueles que tiveram um infarto já tinham problemas prévios de saúde que tornavam a saúde do coração mais frágil. O infarto é causado pela formação de coágulos que interrompem o fluxo sanguíneo e consequentemente a oxigenação do órgão, de forma súbita e intensa.
Quando o coração já está vulnerável devido a problemas adjacentes, como hipertensão arterial, obesidade, colesterol alto, diabetes, histórico de doenças cardíacas na família ou sedentarismo, pode bastar um evento que funcione como um gatilho para que o infarto aconteça.
Geralmente, esse episódio é uma notícia ruim, a perda de um ente querido, uma situação traumática. Porém, os autores do estudo escrevem que “os eventos esportivos estão associados ao aumento de incidência de eventos cardiovasculares, provavelmente de maneira similar a outros gatilhos emocionais”.
“Para aqueles que são muito estressados e ansiosos, recomendo que realizem uma avaliação com seu clínico ou cardiologista antes dos jogos da Copa do Mundo, visando uma adequação, inclusão ou mudança de conduta terapêutica. É importante buscar a estabilidade do ponto de vista clínico e emocional, podendo até ser necessário o uso de medicamentos que diminuam o grau de ansiedade e estresse”, diz o cardiologista do Grupo Fleury, Ricardo Alonso.
O especialista explica que pessoas que têm uma rotina de atividades físicas estão menos suscetíveis ao infarto, porém, no caso de indivíduos com os problemas de saúde listados acima, elas devem ser feitas com acompanhamento profissional .
“Quem sofre de problemas no coração, pressão alta, obesidade, diabetes e outras comorbidades necessita de cuidados especiais para a prática de atividades físicas e a cautela deve ser ainda maior durante a Copa do Mundo, principalmente, nos dias de jogos do Brasil, quando o grau de ansiedade e estresse emocional fica mais elevado, podendo ser um fator de risco adicional”, afirma o cardiologista
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