Dentro do Serviço de Atenção Integrada ao Dependente (SAID), os pacientes têm uma rotina de atividades das 8h30 às 18 horas - Cida Alves |
Falta pouco mais de uma semana para Luciano*, de 23 anos, deixar a clínica onde está se tratando da dependência de crack, álcool e cocaína. Nessa reta final, ele se concentra para encarar novamente as ruas, onde encontrará um bar em cada esquina, cigarros sempre à mão e os colegas que seguem consumindo drogas. Tem diante de si o desafio de evitar frustrações e conflitos, "gatilhos" que o fizeram voltar para as drogas depois da primeira internação, há mais de um ano. "O seu corpo fica limpo, mas a sua mente vai se lembrar da droga para sempre. Um vacilo é o bastante para você ter uma recaída", diz.
Nas oficinas, a música é uma das formas de fazer os pacientes falarem dos seus problemas - Cida Alves |
O diário de Luciano foi seu confidente quando ele não queria falar com ninguém - Cida Alves |
Nele estão registrados os momentos em que o jovem pensou em desistir do tratamento - Cida Alves
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As crises de abstinência foram controladas com caminhadas e muito artesanato - Cida Alves |
No tempo livre, os dependentes ficam na área de convivência da clínica, sempre acompanhados de enfermeiros - Cida Alves |
Nas aulas de educação física, Luciano, que foi jogador de futsal, recupera o corpo dos efeitos da droga - Cida Alves |
Desde que começou a operação Centro Legal na Cracolândia, o número de atendimentos nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) da região central de São Paulo aumentou em 50%, informa a Secretaria Municipal de Saúde. Os CAPS são unidades de portas abertas onde os dependentes se tratam sem ficarem internados. No caso dos pacientes encaminhados para internação, foram 106 nos primeiros quinze dias da operação, iniciada em 3 de janeiro.
A coordenadora de Saúde Mental do município, Rosangela Elias, explica
que a internação geralmente é indicada para os pacientes que apresentam
algum problema de saúde mental juntamente com a dependência, ou para
aqueles em situação de risco, que não conseguem se afastar das drogas
para iniciar um tratamento. “Os que não apresentam nenhum quadro clínico
associado ao vício podem ser encaminhados para as comunidades
terapêuticas conveniadas”, disse.
Segundo a secretaria, o município oferece atualmente 371 leitos somente
para o tratamento de dependentes químicos, sendo 80 no Serviço de
Atenção Integral ao Dependente (SAID) e 291 em comunidades terapêuticas.
Rosangela Elias reconhece que a rede de atendimento ainda não é
perfeita, mas enfatiza que a prefeitura tem garantido vagas de
internação para todos que procuram tratamento. Para reforçá-la, a
secretaria está credenciando dez residências terapêuticas próximas aos
CAPS, onde os pacientes que não tem emprego nem casa ficariam por um
tempo determinado até conseguir estabilidade para seguir o tratamento
fora das clínicas de internação.
Deficiências – A psiquiatra e pesquisadora da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Ana Cecilia Marques aponta
que em São Paulo ainda há deficiência de vagas em leitos especializados
para atendimento de viciados em crack, especialmente adolescentes e
grávidas. Na sua avaliação, também falta uma integração entre os
serviços de saúde e assistência social, além de haver poucas ações
preventivas.
"Algumas pessoas não têm casa nem trabalho. Não adianta encaminhar para
tratamento no CAPS sem oferecer recursos sociais mínimos para esses
indivíduos", afirma. A psiquiatra explica que um viciado em crack
precisa estar em tratamento contínuo por, no mínimo, doze meses. Entre
os usuários de crack, a necessidade de internação para deixar o vício é
três vezes maior que no caso dos alcóolatras, por exemplo.
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