Risco cardiovascular: por que dezembro lidera casos de infarto?

Estresse, pressão social, alta temperatura, elevado consumo alcoólico e interrupção de tratamentos estão entre os principais fatores, segundo especialista

 

Para alguns, o Natal e o Ano Novo são as melhores épocas do ano; para outros, as mais estressantes para a saúde do coração. É o que revelam diversos estudos internacionais, que destacam o aumento entre 5% e 30% de infartos e mortes súbitas durante as festividades natalinas e de virada de ano.

 

Segundo Carlos Japhet, cardiologista do Hospital Santa Joana Recife, da Rede Américas, o excesso de estresse emocional, como viagens, compras, conflitos familiares e sensação de obrigação social, está entre os fatores por trás desse aumento.

 

“Além do estresse, a interrupção de tratamentos também influencia, já que muitas pessoas relaxam na medicação, faltam às consultas e suspendem anti-hipertensivos ou anticoagulantes nesse período”, destaca o especialista. Outros fatores apontados pelo cardiologista são a alimentação muito rica em sal e gordura, que aumenta a pressão arterial e desencadeia eventos isquêmicos; além da alteração do ritmo de sono, com noites mal dormidas que elevam o cortisol, a pressão arterial e a frequência cardíaca.

 

As mudanças climáticas também são fatores que somam no aumento dos infartos nesse período. “No hemisfério norte, há frio intenso, que causa vasoconstrição e sobrecarga cardíaca”, diz Carlos Japhet. Ainda segundo ele, a influência climática no Brasil é menor, mas o calor associado ao álcool e à desidratação também aumentam o risco, principalmente em pessoas com cardiopatia, hipertensão, diabetes, histórico de infarto ou insuficiência cardíaca.

 

“O consumo de álcool nessas condições climáticas pode elevar a pressão arterial de forma significativa, desregular a glicemia (especialmente em diabéticos), interagir com medicamentos cardiovasculares, aumentar a viscosidade do sangue, favorecendo eventos trombóticos, além de desencadear arritmias, sobretudo a chamada ‘holiday heart syndrome’, quadro clássico de fibrilação atrial induzida por álcool”, destaca.

 

Importância do diagnóstico precoce

Ao ter um infarto, o músculo do coração sofre morte de células por falta súbita de sangue e oxigênio. Assim, quanto mais cedo se identificam os sinais de um infarto, melhor, pois o tempo é considerado ‘músculo’, ou seja, a cada minuto que passa, mais células morrem e mais danificado fica o tecido do músculo cardíaco.

 

Entre os sinais de infarto estão dor no peito em pressão, aperto ou queimação, com irradiação para braço, mandíbula ou dorso; falta de ar súbita; sudorese fria e palidez; náuseas; tontura ou mal-estar intenso. “Existem alguns sintomas atípicos, mais comuns em mulheres, idosos e diabéticos, como desconforto na ‘boca do estômago’, cansaço extremo súbito, desmaio ou sensação de morte iminente”, destaca o especialista.

 

Aproveitar as festividades de forma saudável: 7 dicas que podem ajudar

Segundo Carlos Japhet, alguns comportamentos podem ajudar a manter a saúde do coração em dia durante as festividades. Entre as dicas, ele destaca:

•             Planejar um prato equilibrado, com mais vegetais e proteínas magras e menos comidas muito salgadas;

•             Intercalar bebidas alcoólicas com água;

•             Fazer caminhadas leves ao longo do dia;

•             Definir horários de descanso, mesmo durante viagens;

•             Evitar grandes discussões familiares — o estresse é um dos maiores gatilhos de eventos cardíacos;

•             Usar lembretes no celular para não esquecer as medicações;

•             Respeitar os próprios limites e procurar ajuda quando necessário.

 

Em caso de suspeita de infarto, é essencial ligar imediatamente para o SAMU (192) ou procurar uma emergência. “Caso uma pessoa esteja com sinais de intercorrência, é fundamental que ela não dirija, mas aguarde socorro, pare tudo o que estiver fazendo e mantenha-se em repouso. Se a pessoa usa aspirina prescrita previamente para prevenção secundária, pode utilizar a dose habitual, mas não deve administrar se não houver prescrição prévia. Por fim, não tente esperar passar. Chame por ajuda”, finaliza o cardiologista Carlos Japhet.