Lançada em 1976 na voz marcante de Clara Nunes, “O Canto das Três Raças” tornou-se uma das músicas mais simbólicas da história da MPB. Composta por Paulo César Pinheiro (letra) e Mauro Duarte (melodia), a canção nasceu inicialmente com a proposta de ser um samba-enredo da Portela, mas ganhou vida própria ao ser gravada por Clara, que à época era esposa de Paulo César.
A interpretação poderosa da cantora transformou a música em um clássico, fazendo dela não apenas um sucesso nacional, mas também uma peça de reflexão profunda sobre a identidade brasileira.U
Um retrato poético da formação do Brasil
A letra de “O Canto das Três Raças” aborda a construção do povo brasileiro a partir da união — muitas vezes dolorosa — de três matrizes: indígena, negra e europeia. Mas o texto não se limita ao mito da miscigenação: ele expõe também as marcas históricas de opressão, desigualdade e resistência.
O “índio guerreiro”, que “foi morto pela paz do branco civilizado”, simboliza os povos originários e suas lutas pela sobrevivência.
O “negro entoando um canto de revolta pelos ares no Quilombo dos Palmares” traz à tona a resistência contra a escravidão, tomando Palmares como ícone de liberdade.
E os “Inconfidentes pela quebra das correntes” representam o anseio de liberdade também entre os europeus, em um Brasil ainda marcado por hierarquias rígidas.
A música constrói, assim, um mosaico histórico que mistura dor, luta e identidade.
Entre a festa e o lamento
Apesar de falar sobre raízes culturais tão ricas, a canção ressalta as contradições do país ao afirmar que “não existe pecado no lado de cá do Equador”, mas ainda assim o trabalhador, “que deveria cantar feliz”, continua “soluçando de dor”.
O contraste serve de alerta: o Brasil celebra sua diversidade, mas permanece enfrentando desigualdades profundas desde a sua formação.
Um clássico atemporal
Mais de quatro décadas depois, “O Canto das Três Raças” continua atual. Sua mensagem ainda ecoa debates sobre identidade, racismo estrutural, resistência e o papel da cultura na preservação da memória coletiva.
Na voz de Clara Nunes — firme, emocionada e cheia de brasilidade — a canção segue viva, ensinando, provocando e reafirmando que conhecer o passado é essencial para transformar o futuro.






















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