Poucos sabem, mas o estado de Pernambuco, que já figurou entre os mais vastos e poderosos do Brasil colonial, teve seu território drasticamente reduzido ao longo dos séculos — e não por mero acaso. Segundo o historiador do canal Páginas do Passado, o encolhimento do território pernambucano foi resultado de uma combinação de disputas econômicas e, sobretudo, punições políticas impostas pela Coroa Portuguesa e pelo Império do Brasil a um povo que ousou desafiar o poder central.
Do esplendor à fragmentação
Criada em 1534, a Capitania de Pernambuco rapidamente se destacou pela riqueza gerada pela produção açucareira. Essa prosperidade consolidou uma elite com forte senso de autonomia e influência regional, que se estendia desde o litoral de Alagoas até o sertão baiano, alcançando também áreas do Ceará e do Rio Grande do Norte.
Durante o período colonial, Pernambuco exerceu papel de protagonismo na colonização e no desenvolvimento das capitanias vizinhas, como Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, que chegaram a ser subordinadas administrativa e economicamente à capitania pernambucana. No entanto, aos poucos, a Coroa Portuguesa começou a formalizar a independência dessas regiões, enfraquecendo o poder do estado-mãe.
- Ceará (1799): Inicialmente capitania subalterna a Pernambuco desde 1680, o Ceará foi desmembrado definitivamente em 1799 — o primeiro grande golpe territorial para os pernambucanos.
- Paraíba e Rio Grande do Norte: Apesar de terem se tornado capitanias reais, continuaram por décadas sob a forte influência comercial e militar de Pernambuco, o que evidenciava a dimensão de seu antigo poder.
A rebeldia e as punições
Mas foi a postura política de Pernambuco que mais lhe custou caro. O estado foi berço de movimentos separatistas e republicanos que desafiaram diretamente a autoridade da Coroa e, mais tarde, do Império — e as retaliações não demoraram.
1. A Revolução Pernambucana de 1817 – A perda de Alagoas
Em março de 1817, Pernambuco proclamou uma República independente, em protesto contra os altos impostos e o sustento da corte portuguesa no Rio de Janeiro. O movimento, que durou apenas 75 dias, foi duramente reprimido. Como punição, o príncipe regente Dom João (futuro Dom João VI) decretou a separação da Comarca de Alagoas, elevando-a à condição de capitania independente.
Essa decisão retirou de Pernambuco uma das regiões mais ricas e produtivas — a Zona da Mata Alagoana, repleta de engenhos de açúcar — e representou um duro golpe político e econômico.
2. A Confederação do Equador (1824) – O limite com a Bahia
Sete anos depois, Pernambuco voltou a se insurgir, liderando a Confederação do Equador, movimento que buscava implantar uma república federativa e se opunha à Constituição centralizadora do imperador Dom Pedro I. A repressão imperial foi violenta. Como castigo, o Império retirou da jurisdição pernambucana a Comarca do Rio de São Francisco, anexando-a à Bahia.
A região era estratégica para a pecuária e as rotas comerciais do interior, e sua perda consolidou os limites sul do estado, definindo as fronteiras que Pernambuco mantém até hoje.
Um estado menor no mapa, mas gigante na história
Com essas perdas, Pernambuco viu sua influência econômica e política diminuir consideravelmente. A antiga potência açucareira e articuladora do Nordeste foi reduzida ao território que hoje conhecemos — um processo concluído por volta de 1824.
Entretanto, como destaca o vídeo do canal Páginas do Passado, “Pernambuco pode ter encolhido no mapa, mas nunca deixou de ser grande na história e na cultura do Brasil.” Sua tradição de resistência, protagonismo político e riqueza cultural continuam a ecoar como marcas indeléveis de um povo que, mesmo punido, jamais se curvou.






















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