Da internet para o prato: modas gastronômicas geram lucro rápido e atraem novos clientes.
Nos últimos anos, a internet deixou de ser apenas um canal
de divulgação para bares, restaurantes e confeitarias, tornando-se também a
principal vitrine para o surgimento de pratos virais. Receitas que começam como
vídeos caseiros ou posts despretensiosos se transformam, em poucos dias, em
verdadeiros fenômenos de consumo, capazes de mudar o faturamento de um negócio
em questão de semanas.
O exemplo mais recente é o “morango
do amor”, que se espalhou pelas redes sociais e conquistou empreendedores
de diferentes regiões do país. Em Florianópolis (SC), Lúcia de Amorim Ferreira,
técnica de enfermagem e proprietária da Delícias da Lucinha, decidiu apostar na
novidade.
“Produzi 30 unidades e vendi tudo em menos de 15 minutos. É trabalhoso e exige cuidados, mas acrescenta muito nas vendas”, afirma. Ela explica que a oscilação na qualidade da fruta e o aumento de custos levaram a uma produção mais pontual, sempre priorizando qualidade e preço justo.
Além do morango do amor, outras receitas já seguiram esse
caminho, como a banoffee — torta de origem inglesa feita com banana, creme e
doce de leite — que viralizou no Brasil depois de ganhar destaque em vídeos
curtos. De uma hora para outra, passou a integrar cardápios de cafeterias,
confeitarias e até restaurantes que não tinham tradição em sobremesas.
De acordo com uma pesquisa da Abrasel realizada em abril, o
alto custo dos insumos é um desafio para os empreendedores. 91% dos empresários
do setor não conseguiram repassar integralmente o aumento da inflação nos
últimos 12 meses, e virais como morango do amor podem “salvar” empreendedores
neste cenário atual.
Do feed para a vitrine: como surgem pratos virais
Pratos virais seguem um padrão semelhante: começam com um
vídeo ou foto que desperta desejo imediato no público, gerando milhares de
compartilhamentos. Essa divulgação espontânea cria uma corrida dos consumidores
para experimentar a novidade. Negócios que conseguem reagir rápido, adaptando
operações e estoques, colhem os frutos em forma de filas, vendas aceleradas e
maior engajamento online.
Para Lúcia, acompanhar tendências é parte da estratégia. Nos dias em que tem pouco tempo livre, ela aposta em produtos práticos como brownies ou bolos vulcão; quando a demanda e a matéria-prima estão favoráveis, volta a produzir sobremesas virais. “Meu objetivo é sempre a satisfação do cliente, porque doces são poemas que a gente lê com os olhos e saboreia com o coração”, resume.
O apelo visual é determinante para que uma receita ganhe
relevância. Quanto mais chamativa for a aparência, maior a probabilidade de se
encaixar no consumo rápido de conteúdo nas redes. Além disso, há o fator da
exclusividade: muitas dessas criações têm um período limitado de popularidade,
o que estimula a compra por impulso e cria sensação de urgência.
Esse efeito não se limita a sobremesas. Petiscos elaborados,
hambúrgueres artesanais com ingredientes inusitados, drinques coloridos e até
pratos de execução simples, mas com apresentação diferente, já se tornaram virais
e atraíram novos públicos para bares e restaurantes. A tendência é que, com o
crescimento das plataformas de vídeo, mais receitas sigam esse caminho.
Tendência passageira ou oportunidade duradoura?
O fenômeno dos pratos virais vai além do ganho rápido
de faturamento. Eles funcionam como porta de entrada para novos clientes, que
muitas vezes retornam para experimentar outros itens do cardápio. Essa
estratégia, quando usada com equilíbrio, ajuda a fortalecer a marca e ampliar o
reconhecimento digital de bares e restaurantes.
Para empresários do setor, aproveitar essas tendências exige
planejamento para evitar desperdícios e prejuízos. O sucesso repentino pode
sobrecarregar equipes e logística, tornando necessário ajustar produção,
atendimento e comunicação de forma coordenada. “Mesmo depois do auge de uma
tendência, o cliente lembra da experiência e associa à qualidade do lugar”,
comenta um gestor do segmento.
Outro ponto importante é a adaptação da receita ao perfil do
público. Um prato que se tornou popular na internet pode precisar de ajustes de
sabor, tamanho ou preço para ter boa aceitação em determinada região. Lúcia
confirma que esse cuidado fez diferença para ela. “Meu público é formado por
colegas de plantão e moradores da comunidade. Então, mantenho preços
democráticos para que as pessoas tenham vontade de comprar sempre”, explica.
Mais do que seguir modas, o segredo está em saber transformar picos de procura em oportunidades de fidelização. Pratos virais podem ter vida curta, mas o relacionamento criado com o público durante esse período pode render frutos por muito mais tempo — e transformar simples modismos em marcos na história de um negócio.
Foto Wikipedia Commons
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