Na reta final da Quaresma, mais precisamente a partir do quinto domingo do período — conhecido como Domingo da Paixão — é comum, nas igrejas católicas, vermos as imagens dos santos, de Jesus crucificado e até mesmo dos altares cobertas com panos roxos. Essa tradição, antiga e carregada de simbolismo, marca uma mudança no clima litúrgico e prepara os fiéis para o ápice do calendário cristão: a Semana Santa e a celebração da Páscoa.
Um gesto de recolhimento e silêncio
O gesto de cobrir as imagens tem como principal objetivo intensificar o espírito de recolhimento, penitência e contemplação do mistério da Paixão de Cristo. Ao ocultar os elementos visuais que costumam chamar a atenção dentro do templo, a Igreja convida os fiéis a voltarem seus olhos para o essencial: o sofrimento, a morte e a ressurreição de Jesus.
A cor roxa, usada nos panos, também carrega significado. Ela é a cor litúrgica da Quaresma, associada ao luto, ao arrependimento e à espera. É um tempo de interiorização, onde se busca refletir sobre a própria fé, praticar o jejum, a caridade e a oração.
Raízes antigas
Essa prática remonta à Idade Média e está ligada a uma tradição conhecida como velatio, muito comum nas igrejas da Europa. Naquele tempo, cortinas eram estendidas entre o altar e os fiéis durante o tempo quaresmal, simbolizando o "véu" que nos separa de Deus por causa do pecado. Posteriormente, a prática evoluiu para o costume de velar apenas as imagens.
O retorno à luz na Páscoa
As imagens permanecem cobertas até a Vigília Pascal, celebrada na noite do Sábado Santo. Durante essa celebração, repleta de símbolos — como o fogo novo e a proclamação da Páscoa —, os panos são retirados, e a Igreja volta a brilhar com luz, flores e cantos de alegria, celebrando a Ressurreição de Cristo.
Assim, o gesto de cobrir as imagens com pano roxo é mais do que uma tradição visual: é um chamado à interiorização, à sobriedade e à preparação espiritual para o maior acontecimento da fé cristã.
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