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Jornalismo pode colaborar com mudanças em relação a machismo e racismo


Assunto é tema de curso online "Jornalismo Feminista e Antirracista: Uma introdução ao debate", ofertado pela UFSCar


O racismo, caracterizado pela discriminação ou preconceito contra pessoas por causa da cor da pele, só passou a ser considerado crime no Brasil, em 1989. Porém, historicamente, esse tipo de comportamento chegou ao País junto com a colonização, há mais de 500 anos, quando os europeus reproduziram por aqui o processo de acumulação de capital e de produção econômica, que passou fundamentalmente pela negação da humanidade de uma parcela significativa de pessoas negras de todo o mundo, que perderam sua liberdade e seus direitos, foram retiradas de seus territórios e lugares de origem, tiveram furtadas suas identidades e foram escravizadas. Assim como o racismo, o machismo, comportamento que nega a igualdade entre homens e mulheres, segue persistente no dia a dia da sociedade, nas relações políticas, econômicas, culturais e interpessoais. Mudanças em prol da igualdade racial e de gênero vêm ocorrendo gradativamente, porém a luta contra essas duas formas de preconceito e violência é uma tarefa complexa, que envolve atuação em diferentes frentes: educação, acesso a cargos de liderança no mercado de trabalho e representatividade na cultura, por exemplo. O papel desempenhado pela mídia e pelo jornalismo como mediadores e construtores das relações sociais, por meio da seleção de situações da realidade que serão divulgadas, também é fundamental nessa batalha.

De acordo com os especialistas, os veículos de comunicação e a sociedade se retroalimentam. Ou seja, o conteúdo divulgado e a forma como é disseminado pelos grandes veículos podem trazer reflexos à sociedade. "Em alguns momentos se pensa que os meios de comunicação, a mídia, estão apenas reproduzindo o que está dado na sociedade. Mas eles também são construtores, a partir do momento em que eles selecionam o que se recorta, em que se edita, em que se escolhe um entrevistado, em que se escolhe uma palavra para colocar na matéria do jornal, em que se escolhe um enquadramento de câmera sobre determinado personagem", ressalta Lucy Oliveira, professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Ela explica que, ao longo da história, determinados comportamentos, línguas, linguagens, religiosidades, expressões de cultura e características em corpos foram considerados civilizados e outros considerados inferiores, o que é reproduzido culturalmente até os dias de hoje, pois está gravado na memória da sociedade.

De acordo com a docente, os meios de comunicação foram essenciais na construção dessa representação. "Entendemos o jornalismo como construtor e reafirmador da desigualdade ou da igualdade em termos de raça e gênero. Pesquisas científicas que analisaram a linguagem de páginas da editoria de polícia de jornais impressos que retratavam crimes contra mulheres, para entender a maneira como jornalistas enquadravam aquelas situações, já mostraram que, antigamente, muitas vezes, feminicídios eram relatados como crimes de honra. Quando se passa a identificar esse tipo de ação como 'crime de feminicídio', já está se fazendo uma modificação importante e muito relevante sobre o enquadramento dado a essa questão", destaca.

Felizmente, para Viviane Gonçalves Freitas, professora de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenadora do Grupo de Trabalho Mídia, Gênero e Raça da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (Compolítica), nos últimos anos, com os movimentos sociais, há indícios de transformação. "Neste momento, nós temos, sim, avanços, seja na imprensa comercial ou na imprensa alternativa. A mídia tem um papel fundamental no debate sobre o racismo no Brasil, principalmente na produção de matérias, documentários, reportagens, discussões de uma maneira mais palatável, de uma maneira mais fácil de ser compreendida. Falar sobre a importância da mídia no debate racial é falar também de possibilidade de transformação de consciência e de instrumentalização sobre novas maneiras de se pensar a sociedade brasileira", afirma.

De acordo com a especialista, para construir uma comunicação que seja feminista e antirracista, que seja ampla e coletiva, a representação da sociedade precisa ser feita de forma mais crítica e reflexiva. Segundo Lucy Oliveira, o processo formativo é o primeiro movimento de impacto para mudanças efetivas. "A partir do acesso ao conhecimento, é possível repensar as circunstâncias atuais das práticas cotidianas, dentro das redações, na pesquisa e na vida. A discussão de raça e de gênero é construída por movimentos e pela ciência, que provocam os campos político e social a pensar as suas demandas", acredita. "Pensar a questão racial no Brasil é um desafio. A transformação passa por todo mundo e a universidade deve contribuir. A gente produz pesquisa, a gente produz conhecimento, e ele precisa extrapolar os muros da universidade. Queremos construir essas pontes" conclui.

Para promover a discussão sobre o papel das mídias na estruturação do racismo e da desigualdade de gênero na sociedade brasileira, a professora, em parceria com Viviane Gonçalves Freitas, criou o curso online "Jornalismo Feminista e Antirracista: Uma introdução ao debate", ofertado pela UFSCar. O curso, ao longo de cinco encontros, busca construir pontes entre as reflexões e as pesquisas produzidas no meio acadêmico, por meio do contato entre atores do campo da comunicação e da política com outros comunicadores, estudantes de comunicação, jornalistas e produtores de conteúdo em geral. As aulas são participativas, baseadas em diálogos e reflexões. As inscrições estão abertas até o dia 4 de maio. Em 50% das vagas, há desconto para mulheres autodeclaradas pretas, pardas, indígenas e LGBTQIAP+. Também há dez vagas gratuitas para a comunidade interna da UFSCar. Os interessados podem se inscrever pelo site https://jornalismofemi.faiufscar.com.

Para saber mais sobre o assunto, assista ao "Na Pauta- Entrevista" desta semana, com a participação das professoras organizadoras do curso. O conteúdo está disponível no Portal da UFSCar, em www.ufscar.br, no Canal UFSCar Oficial no Youtube e nas redes sociais oficiais da universidade.

Lucy Oliveira, professora do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar. Imagem: Divulgação

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