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A crise das grandes varejistas e os impactos para as empresas têxteis

 

O advogado mestre em direito empresarial e cidadania Alcides Wilhelm, do Wilhelm & Niels Advogados Associados. Crédito: Divulgação.

Desde os tempos pandêmicos, os empresários vêm enfrentando muitos desafios para manter a saúde financeira de seus negócios, agravados por reflexos econômicos nacionais e internacionais, bem como pela indecisão do atual governo quanto à políticas econômicas adequadas, especialmente em relação ao controle de gastos públicos. A alta taxa de juros e os poucos investimentos criaram um cenário de estagnação do país. Como consequência, grandes empresas declararam problemas financeiros, deflagrando uma onda de recuperações judiciais. Os impactos negativos são particularmente sentidos no setor têxtil do Vale do Itajaí (SC), onde cerca de 1.500 indústrias empregam mais de 80 mil trabalhadores.

Uma das empresas varejistas, cujas dificuldades mais impactaram os empresários catarinenses, foi o Grupo Leader, com sede no Rio de Janeiro. A rede de vestuário foi fortemente afetada pela crise econômica causada pela pandemia e, após acumular R$ 1,2 bilhão em dívidas - sobretudo com instituições financeiras -, viu-se obrigada a solicitar recuperação judicial. No começo deste ano, ocorreu o emblemático caso das Lojas Americanas, originado por pelo fato relevante divulgado pela varejista sobre “inconsistências contábeis” (leia-se: fraudes) em seus balanços patrimoniais. Supostas inconsistências geraram divergências de R$ 20 bilhões e culminaram num pedido de recuperação judicial e diversas disputas judiciais envolvendo instituições financeiras e a própria empresa, além de deflagrar processos investigatórios contra seus acionistas, administradores e a empresa responsável pela auditoria.

A crise das Lojas Americanas estremeceu todo o setor e se refletiu também na concessão do crédito de muitas outras grandes varejistas, que já externaram pequenas notas de reavaliação. A Marisa registrou prejuízo líquido de R$ 391 milhões em 2022 e anunciou um plano de reestruturação financeiro e operacional, com fechamento de cerca de 30% das lojas. Na esteira da Americanas, a Tok&Stok também entrou em crise e contratou nova consultoria para fazer uma avaliação da situação do caixa. A estimativa é que a rede de móveis e decoração acumule R$ 600 milhões em dívidas.

O cenário até agora descrito traz como reflexo uma grande incerteza sobre a capacidade de as gigantes do varejo conseguirem no futuro próximo honrar seus compromissos com as indústrias têxteis do Vale do Itajaí, que são conhecidas pela excelência e fornecimento de grande parte de sua produção para àquelas empresas, e cujo futuro é incerto. Muitas indústrias catarinenses já estão sofrendo com as consequências dessa conjuntura desfavorável, e empresários da região relatam que vêm recebendo pedidos para a renegociação de seus recebíveis, mediante prazos de pagamento mais longos e com descontos sobre o valor de face dos títulos.

Além disso, as indústrias têxteis também vêm reduzindo a sua produção devido ao cancelamento de pedidos como consequência da crise que assola o setor varejista, bem como pela queda na demanda ocasionada pela instabilidade econômica e política brasileira. A preocupação, agora, é que novos pedidos de recuperação sejam protocolados pelas grandes varejistas, o que irá impactar ainda mais na produção do setor têxtil catarinense, entre outros, e nos compromissos financeiros dessas empresas regionais, localizadas num polo industrial que representa sozinho cerca de um terço do Produto Interno Bruto de Santa Catarina.


Alcides Wilhelm é advogado, contador e administrador judicial. Mestre em Direito Empresarial e Cidadania pela Faculdade de Direito de Curitiba (Unicuritiba). Especialista em Finanças Empresariais pela FGV e em Gerência Contábil e Auditoria pela Furb. Sócio do Wilhelm & Niels Advogados Associados, especializado em Reestruturação de Empresarial. Membro do IBAJUD, IBEF e Lide SC e PR.

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