Em 28 de abril celebramos o Dia Nacional da Caatinga. Muito além de celebrar e reconhecer a importância desse bioma único e diversificado, que é parte essencial da identidade brasileira, a data nos convida a refletir sobre a beleza, a riqueza e os principais desafios e oportunidades de mercado para a agricultura familiar de baixo carbono neste ecossistema.
O bioma abrange cerca de 11% do território nacional com paisagens áridas e árvores espinhosas que escondem uma biodiversidade surpreendente, com uma variedade de plantas, animais e microrganismos adaptados às condições extremas de calor e escassez de água. A Caatinga também desempenha um papel fundamental na manutenção do equilíbrio ambiental e na promoção da sustentabilidade, como a regulação do clima, a proteção do solo e a manutenção da biodiversidade.
Apesar de sua importância, a Caatinga enfrenta sérios desafios como o desmatamento, a desertificação, a degradação do solo e as mudanças climáticas. Por isso, é preciso um trabalho conjunto para a conscientização e mobilização para a conservação e o uso sustentável desse ecossistema precioso.
“A Caatinga é um bioma muito rico em biodiversidade e repleto de riqueza cultural e natural. Precisamos trazer a atenção do mundo para o bioma, mobilizando recursos e parceiros para trazer prosperidade para as pessoas que lá vivem e conservar esse bioma tão ameaçado”, alerta a diretora executiva da Conexsus, Bárbara Brakarz.
Pensando nisso, o Projeto Rural Sustentável (PRS) na Caatinga nasceu e teve como objetivo mitigar as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e aumentar a renda de pequenos e médios agricultores promovendo a adoção de tecnologias de baixo carbono.
Acesse a publicação: PRS Caatinga: uma trajetória de inovação no semiárido brasileiro
“Uma questão central são as tecnologias de baixa emissão de carbono ajustadas, adaptadas à Caatinga e algumas outras associadas. Com base em todo o conhecimento adquirido, entendendo as necessidades e identificando uma grande lacuna para o crescimento dos negócios, o projeto estruturou um mecanismo de blended finance customizado para a Caatinga, que poderá ser adotado para promover o acesso a crédito. Deixamos também uma série de redes armadas e a principal foi a rede de professores, pesquisadores e alunos da Universidade Federal do Vale de São Francisco (UNIVASF), em torno do tema do desenvolvimento de tecnologias agrícolas de baixa emissão de carbono. Inclusive, esse tema passou a constar formalmente da rede curricular da Universidade” , destacou o diretor do projeto Rural Sustentável Caatinga, Pedro Leitão.
Mais de cinco mil pessoas foram beneficiadas direta ou indiretamente e, para Pedro Leitão, o significado do Projeto vai muito além dos indicadores formais: “Aquilo que mais me parece ser importante é a mudança de atitude e mudança de valor das pessoas. Nós fizemos em agosto do ano passado uma série de jornadas de avaliação, reunimos cerca de 250 famílias que participaram do projeto e essas famílias nos disseram, pessoalmente, quanto esse Projeto significou”, concluiu.
Arranjos produtivos sustentáveis
O Projeto promoveu a adoção de Tecnologias Agrícolas de Baixo Carbono (TecABC), tendo como objetivo melhorar o acesso de agricultores e agricultoras à assistência técnica e capacitação; reforçar as capacidades dos serviços locais de extensão rural em tecnologias de adaptação às mudanças climáticas; e apoiar as organizações de agricultores e agricultoras para fortalecer seu papel na produção e comercialização das cadeias de valor da sociobioeconomia, que inclui produtos da sociobiodiversidade e agricultura familiar.
Para o Secretário Adjunto de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do MAPA, Pedro Neto, o PRS é uma iniciativa que vem contribuir com o desenvolvimento sustentável “em um bioma muito especial que é a Caatinga, um território repleto de riquezas, de grande potencial, mas também de muita sensibilidade, não só ambiental, mas como também social e econômica”.
Além disso, Neto explica que o Projeto buscou gerar renda, combater a pobreza e reduzir as desigualdades para produtores rurais. “Não só a questão das tecnologias como também a busca por inovações, por produção de conhecimento. Fortalecer as capacidades locais e, claro, procurar deixar lições aprendidas para as comunidades locais. Então o PRS Caatinga vem de forma direta organizar a questão da melhor convivência do sertanejo, do agricultor, na Caatinga, no semiárido”, conclui.
A área de atuação do Projeto incluiu 37 municípios, em cinco Estados da região Nordeste, onde também desenvolveu ações de conscientização sobre tecnologias de baixo carbono e apoiou produtores e produtoras com informações sobre o acesso às linhas de crédito rural existentes para a adoção de práticas sustentáveis de baixo carbono, voltadas para a restauração de áreas degradadas e conservação da vegetação nativa.
“A Caatinga é o bioma brasileiro talvez mais ameaçado pelas mudanças climáticas. Está sofrendo um forte processo de desertificação, então necessita de soluções, tanto ligadas à mitigação das mudanças climáticas, mas principalmente a como os produtores vão se adaptar a um contexto de mudanças climáticas e a um processo de desertificação. Então, como a gente aumenta a resiliência dessas populações no território para conviver com eventos climáticos extremos? Questiona o gerente sênior de Programas para Agricultura Sustentável na Embaixada Britânica, Pedro Zanetti.
“O governo britânico fica muito honrado e satisfeito de poder apoiar o governo brasileiro nessa iniciativa de difundir essas práticas de agricultura de baixo carbono para o contexto do semiárido na Caatinga e trabalhar em parceria com os governos subnacionais e com outros parceiros para o sucesso do Projeto. O PRS Caatinga foi considerado um sucesso e a gente fica feliz de ter apoiado essa iniciativa e estamos abertos a diálogos futuros para novas oportunidades de cooperação. Os resultados foram super positivos, então o foco é em apoiar pequenos e médios produtores, cooperativas, associações a adotarem práticas de agricultura de baixo carbono adaptadas para o contexto do semiárido”, afirma Zanetti.
O Projeto desenvolveu estudos sobre o bioma Caatinga e as principais condições para o desenvolvimento de modelos de produção de baixo carbono. A Conexsus integrou o projeto e promoveu o desenvolvimento de sete negócios comunitários, aferindo sua capacidade organizacional, fornecendo assessoria na modelagem dos negócios e estratégias de mercado.
Para o Coordenador de Negócios Comunitários e Ecossistemas Regionais da Conexsus, André Ramos, “ o projeto foi importante para evidenciar o potencial de contribuição da conservação da Caatinga para as agendas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas e das economias da sociobiodiversidade ou bioeconomia. A Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro, está fortemente ameaçada pelo desmatamento e mudanças no uso do solo e estudos indicam que parte dela já apresenta clima árido, e não semiárido, como antes, em virtude dos impactos das mudanças climáticas das últimas décadas. No Semiárido Nordestino habitam 37% dos agricultores e agricultoras familiares do Brasil”.
PRS Caatinga é resultado de um acordo de cooperação internacional firmado entre os governos do Reino Unido e do Brasil e é financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com recursos do Financiamento Internacional do Clima do Governo do Reino Unido. Tem o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) como beneficiário, a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS) como agência implementadora, e contou com o apoio da Conexsus como parceiro executor.
Foto Divulgação
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