Empresas se unem para trazer ao país projeto de revitalização dos oceanos por meio da inserção de recifes inteligentes e de monitoramento oceânico. Grupo já recebeu aporte de US$ 100 milhões
A união de duas empresas, uma angolana e uma singapurense, está trazendo uma alternativa à emergência climática. E o Brasil terá um papel importante nessa luta para reduzir as temperaturas do planeta. A The Reef Company e a Big Geo Lighthouse (BiGle) uniram-se em um amplo projeto, que envolve a criação de recifes inteligentes e o monitoramento dos oceanos.
O projeto já está em andamento em Portugal e chamou a atenção de investidores europeus e asiáticos, que fizeram um aporte inicial de US$ 100 milhões, que está sendo usado para dar andamento aos projetos. O potencial de negócios gira em torno de US$ 1 trilhão nos próximos dez anos. Agora, para que a iniciativa cresça, é necessário ampliar essa atuação para o Brasil, focando, neste momento, na expansão dos parques eólicos offshore em Fortaleza, no Ceará.
“Atualmente, estamos enfrentando três grandes desafios globais: o desafio climático, o declínio da biodiversidade e a desigualdade socioeconômica”, afirma o CEO do The Reef Company, Jeroen van de Waal. “Muitas pessoas olham para o espaço procurando soluções para esses problemas, mas não percebem que as respostas estão aqui mesmo, nos oceanos. Basta aproveitar”, completa.
“Nós queremos ser um farol do futuro”, destaca António Nunes, fundador da BiGle. “É possível criarmos soluções ambientais, unindo sustentabilidade e lucratividade. E o Brasil possui um potencial brutal para se destacar nessa empreitada, sendo referência mundial”, completa.
O projeto
As mudanças climáticas estão impactando o mundo inteiro, sendo que um dos ecossistemas mais afetados são os recifes de corais, que são extremamente importantes para o planeta e para as pessoas. Cerca de 25% de toda a vida nos oceanos tem origem em recifes saudáveis. Aproximadamente, 60% da população mundial depende das proteínas animais geradas nos recifes e um bilhão depende diretamente dos recifes para sua subsistência.
Apesar de toda essa importância, menos de 0,1% dos oceanos estão cobertos por recifes de coral (isso equivale a uma área do tamanho da Nova Zelândia). Na maioria dos casos, os recifes estão localizados em áreas próximas da linha do Equador e em profundidas que variam de 50 a 100 metros de profundidade.
As mudanças climáticas, principalmente o aquecimento dos oceanos, impacta diretamente na saúde desse habitat. Se nada for feito, os cientistas estimam que cerca de 70 a 90% de todos os recifes de coral desaparecerão nos próximos 20 anos. Um estudo publicado em 2021 pela revista One Earth mostrou que, em todo o mundo, a área ocupada pelos recifes de coral diminuiu 50% no meio século desde 1957.
A The Reef Company e a BiGle vão combater justamente as mudanças climáticas ao mesmo tempo em que fazem a revitalização da fauna e da flora marinha e monitoram os oceanos. Por meio de uma tecnologia especial que utiliza polímeros que não agridem o meio ambiente, são construídos grandes recifes inteligentes, que são depositados no leito do oceano de forma que seja possível recuperar a flora e a fauna marítima.
Cada recife inteligente possui uma área de aproximadamente 50 km² e custa em torno de US$ 200 milhões. O objetivo é implementar 5 mil recifes em 30 anos e obter uma extensão de 250 mil km² de corais em todo o mundo, de forma que consigamos reverter as emergências climáticas, além de garantirmos também a vida das pessoas.
O primeiro recife inteligente já se encontra em fase de planejamento e começará em Portugal nos próximos meses. Com foco na expansão pelos países lusófonos, os próximos projetos na Ilha da Madeira e em cabo Verde. Brasil seria a 4ª área a ingressar no projeto.
Além disso, em um segundo momento, as duas empresas implementarão um amplo sistema de monitoramento dos oceanos. Por meio do BluBoxx, tecnologia de monitoramento dos oceanos, será possível levantar dados e informações atualizadas sobre como estão os mares, como salinidade, temperatura, nutrientes, acidez etc.
Essa tecnologia pode ser utilizada pelos parques eólicos offshore, plataformas de Oil&Gas, cabos submarinos e outras infraestruturas marítimas, como portos de embarcações, para monitorizar os ecossistemas marinhos locais e analisar o impacto. Para se ter uma ideia, atualmente, existem cerca de 1,35 milhão de quilômetros de cabos submarinos cruzando o mundo.
A apresentação da iniciativa e do projeto foi feita ao mercado brasileiro, recentemente, durante o K4TO, evento do Winds for Future com foco nos oceanos, realizado na praia do Cumbuco, em Fortaleza (CE).
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