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Após infartar na gestação e quase morrer, mulher de 42 anos dá à luz em SP



Parto ocorreu no Hospital São Luiz Anália Franco, na zona leste; mãe e bebê, um menino, passam bem; infarto na gestação é raro, com incidência de 3 casos a cada 100 mil partos;

“Eu só descansei quando ouvi o coraçãozinho dele batendo dentro de mim”, lembra Ana Cristina Martins, de 42 anos, após sofrer um infarto durante a gestação do seu primeiro filho.


Hoje, com o pequeno Stephan no colo, Ana compartilha um dos momentos mais difíceis da sua vida.

“Senti um aperto muito forte no peito. Percebi que não era algo normal e corri para o pronto-socorro, onde fiz um eletrocardiograma. Lembro deles correndo comigo na maca pelo hospital e, quando ouvi os médicos falando sobre pegar um stent, tive certeza que tinha infartado”, relata a analista comercial.           

Isso aconteceu no dia 4 de maio, na 22ª semana da tão sonhada gestação, que aconteceu de forma natural, três meses após seu casamento. Ana deu entrada no Hospital e Maternidade São Luiz Anália Franco e, após avaliação da triagem no pronto-socorro obstétrico, foi encaminhada para ala de cardiologia.

“Esperávamos encontrar pequenos rasgos na artéria, que é o mais comum, no entanto era um caso de obstrução completa, e realizamos um cateterismo de emergência”, explica Rafael Domiciano, médico e coordenador de Cardiologia do São Luiz Anália Franco, unidade da Rede D'Or localizada na zona Leste da capital paulista.

“Como se tratava de uma gestante, o que é muito raro, montamos uma equipe multiprofissional para fazer o acompanhamento e discutir todos os passos de tratamento e acompanhamento”, destaca o coordenador.

Apesar do infarto agudo do miocárdio ser a maior causa de mortes no país, trata-se de um evento raro durante a gravidez, com incidência estimada de três casos a cada 100 mil partos. Traduzindo para o cenário brasileiro, seria como se 20 gestantes por ano apresentassem a doença. Se por um lado, aparentemente são poucos casos, por outro, a letalidade é expressiva, podendo chegar a 20%. De acordo com a American Heart Association, o risco de infarto em uma mulher durante o período gestacional é até quatro vezes maior do que quando ela não está grávida.

“Isso ocorre por causa das alterações fisiológicas do organismo, como aumento da frequência cardíaca, elevação hormonal e nos níveis de colesterol, coagulação, entre outras”, alerta Rafael. 

As causas de infarto em gestantes são amplas e variadas, sendo a principal a dissecção da artéria coronária, que ocorre devido à separação da parede da artéria e corresponde a acerca de 45% dos casos, seguida por trombose (formação de coágulos sanguíneos), vasoespasmo (estreitamento das artérias) e doença aterosclerótica (acúmulo de placas de colesterol nas paredes das artérias). Os fatores de risco do infarto na gravidez são diferentes, sendo os mais frequentes o tabagismo (23%), histórico familiar (16%), hipertensão (9%) e distúrbio lipídico (7%).

Durante a gestação, Ana manteve hábitos saudáveis e as consultas e exames do pré-natal em dia. “Mas tenho um histórico familiar. Meu pai faleceu de infarto, minha mãe e meu irmão também já tiveram. Quando entendi o que estava acontecendo só conseguia pedir a Deus para não perder meu bebê, pois ser mãe era meu maior sonho”, conta Ana. O tratamento do infarto na gestação é extremamente complexo, considerando a escassez de dados clínicos, dificuldade no manejo medicamentoso e as alterações fisiológicas da gravidez.  Mas, o bebê não foi afetado e os meses seguintes foram de muita expectativa e cuidados, com consultas regulares na obstetra e cardiologista, e uso de medicamentos. Stephan nasceu por volta de 9h da segunda-feira (21/8), com 2.710 kg e 45,5 centímetros, após um parto cirúrgico realizado no Hospital e Maternidade São Luiz Anália Franco.

“O momento do parto já exige naturalmente um aumento do esforço cardíaco da mãe. Como o quadro já era delicado, planejamos todos os detalhes para ter o maior controle possível e garantir mais segurança para a mãe e o bebê”, explica Fabiana Ruas, obstetra e Coordenadora da Maternidade São Luiz Anália Franco.


Para isso, Ana realizou o procedimento sedada, visando um controle mais efetivo da situação e principalmente, da pressão arterial, que costuma ter queda com o uso da anestesia raquidiana (raqui), comumente utilizada para realização de cesarianas.

"A técnica anestésica escolhida foi uma decisão difícil pelo fato de não proporcionar a mãe o primeiro contato imediato com o filho, contudo, foi o mais indicado para o caso da Ana. Todo o procedimento transcorreu sem intercorrências, com o nascimento de um bebê saudável, que chorou ao nascer e que contagiou a sala cirúrgica onde todos comemoraram a sua chegada" , complementa Mayara Ferrarez, coordenadora da Maternidade e uma das obstetras que realizaram o parto.

“O momento do nascimento foi o mais emocionante da minha vida. Não sabia que era possível sentir frio e calor ao mesmo tempo. Foram meses de expectativa, minutos muito intensos, e agora está tudo bem com a minha família”, compartilha Igor Diego Correa, pai do pequeno Stephan e marido de Ana.


Após o parto, a paciente foi encaminhada para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) cardiológica para observação, e o primeiro contato com o filho foi por meio de vídeochamada. No dia seguinte, já no quarto da maternidade, finalmente pegou o pequeno no colo. "Ele é lindo, perfeito", disse enquanto as lágrimas de emoção desciam pelo rosto.  Ana e Stephan receberam alta hospitalar na sexta-feira (25). Agora a mamãe seguirá em tratamento ambulatorial e acompanhamento do quadro cardiológico.

“O que posso compartilhar dessa experiência é: fiquem atentas, pois um sintoma aparentemente simples na gravidez pode ser algo mais grave. Eu achei que era uma queimação, mas estava infartando. Não espere, vá para o hospital”, alerta Ana Cristina. 

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