Doutora em Psicologia e coordenadora de Núcleo da Faculdade Nova Roma alerta para equilíbrio – tema do Janeiro Branco – e marco de prioridades
Início de ano: tempo de colocar em prática metas traçadas com base em reflexões feitas no final do ano anterior. A doutora em Psicologia Clínica e coordenadora do Núcleo de Psicologia da Faculdade Nova Roma, Ítala Daniela, alerta, no entanto, que para isso é preciso lembrar sempre da dimensão da saúde mental, com equilíbrio e estipulando prioridades. Não é à toa que, este ano, o Janeiro Branco – movimento social dedicado à construção de uma cultura da Saúde Mental na humanidade – traz o tema “A vida pede Equilíbrio”.
Quando o equilíbrio não acontece, a mente fica suscetível a doenças e o corpo dá sinais. Começa a mostrar que a dimensão psíquica está em sofrimento (psicossomática). Há fatores predisponentes – os genéticos e os acomodados na existência da pessoa, no início da vida, e os precipitantes (eventos traumáticos ou acontecimentos da vida que precipitam o sofrimento psíquico). A pandemia, por exemplo, é um fator precipitante dos sofrimentos psíquicos e não é possível saber os danos psicológicos em cada indivíduo, a longo prazo.
Ítala Daniela explica que, mesmo que haja históricos de transtornos psicopatológicos na família, há circunstâncias concretas da vida (morte, demissão, cenário de sofrimento em um relacionamento) que podem desencadear sofrimento ou transtorno psicológico. “Quando não se tem capacidade de resiliência ou de suportar sofrimentos muito fortes, pode precipitar o transtorno. Há fatores genéticos, mas também os ambientais. É preciso pensar na vida numa dimensão holística, com coisas que vão se conectando e se comunicando, ao longo da vida”.
Os sofrimentos psíquicos têm menor impacto no corpo, mas não na existência do indivíduo, pois se sofre na mesma intensidade de quando se tem uma patologia psíquica ou transtorno psicopatológico depressivo, de ansiedade ou do pânico. “Nem tudo é transtorno psíquico, mas eles se configuram dentro de um sofrimento psíquico. Tristeza, falta de energia e de esperança podem ser sinais de um sofrimento psíquico ou de uma patologia psíquica. Assim, é preciso ver o quanto aquele está comprometendo o dia a dia, as relações interpessoais, a vida em sociedade e no trabalho e é preciso um profissional qualificado para diagnosticar o transtorno psíquico patológico”.
Há um estresse advindo do atual modelo de sociedade, relações de trabalho e de família que impõem certa urgência em todas as coisas e nem sempre se dá conta de uma vida para ontem. “O estresse pode levar a um sofrimento psíquico. Fisicamente, o corpo também é impactado em cenários de estresse. A própria Síndrome de Bornout, que acomete os trabalhadores, é a síndrome do esgotamento.
Fármacos – Dentro da configuração do transtorno psíquico patológico, há alterações neuroquímicas da serotonina, dopamina e noradrenalina, que são hormônios que estão na dimensão biológica. Há o sofrimento psíquico, mas também uma dimensão biológica. O fármaco, a exemplo do antidepressivo, é um receptador de serotonina, que facilita o processo de produção hormonal, que não está ocorrendo de forma natural. Por isso, em muitos quadros, se vai precisar do psicofármaco, que vai atuar na parte bioquímica do cérebro.
Assim, é preciso tomar cuidado com a automedicação, uma vez que não se sabe do que se precisa e os psicofármacos afetam diretamente o nosso funcionamento comportamental. A inserção e a retirada desses precisam ser acompanhados pelo psiquiatra, que vai estar atento à resposta do fármaco no organismo.
Já a psicoterapia vai trabalhar os fatores ambientais e predisponentes que aparecem nas relações humanas. “O psicólogo vai olhar para a questão existencial, para a dinâmica de vida do paciente, porque somos constituídos por experiências de vida e por um corpo. É necessário olhar para as narrativas de vida que geram sofrimento, mas também para a dimensão biológica”, considera a psicóloga.
Sintomas – É preciso ficar atento e procurar um profissional, em caso de sinais, segundo a profissional. Ela explica que, na depressão, existe uma baixa vontade de viver, há alteração de sono, irritabilidade, dificuldade de conviver em sociedade e de sair para trabalhar. “Não é só pelo entristecimento. A tristeza é perene, permanente, mas é preciso ter a associação de vários sintomas para se configurar a depressão”. Já no quadro de ansiedade, se vai ter um medo maior de sair de casa, taquicardia, tremor e sudorese, em algumas circunstâncias. “É a associação de sintomas, reações físicas ou psíquicas, que fogem do habitual, que deve ser observada. Se há uma alteração no modo de existir da pessoa, a partir de um fator que ocorre, seja ele um trauma ou um acontecimento, é preciso buscar ajuda”.
Fatores terapeutizantes – São elementos que ajudam a cuidar da vida, a exemplo de um animal de estimação ou da prática de atividade física, que contribuem com o cuidado com a saúde mental. Essa última favorece a produção de hormônios (serotonina, dopamina e noradrenalina). Ítala Daniela diz que todos os vínculos e hobbies que promovem uma relação de bem-estar são terapeutizantes. “Sozinho, nenhum elemento resolve, mas, associados, de acordo com cada complexidade, sim. Por isso a necessidade do acompanhamento sistêmico, do olhar holístico, através de uma rede de assistência”.
Foto: Freepik
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