Desde os primórdios do cristianismo, a Missa ocupa o centro da vida da Igreja e é considerada o supremo ato de culto da religião católica. Não se trata de uma prática que ganhou importância em determinado momento da história, mas de uma herança contínua desde os apóstolos. O vídeo “Como era a Missa na Igreja antiga?”, do canal Escola de História da Igreja, explora essa trajetória, com foco no rito romano durante o período das perseguições.
A Missa como renovação do sacrifício de Cristo
Na tradição católica, a Missa é compreendida como a renovação incruenta do sacrifício de Jesus Cristo. O cônego Hilário Vittem a define como o ato mais elevado e augusto de culto, em que o próprio Cristo é oferecido como vítima incruenta para a salvação da humanidade.
A Eucaristia nos primeiros séculos
O ponto central da Missa sempre foi a Eucaristia, sacramento em que, pela consagração, pão e vinho tornam-se o Corpo e o Sangue de Cristo. Já nos escritos de Santo Inácio de Antioquia e São Justino, no século II, encontra-se o testemunho de que não se tratava de simples simbolismo, mas da verdadeira carne e sangue de Cristo encarnado.
Além disso, os primeiros cristãos celebravam também o “ágape”, uma refeição de caridade distinta do sacrifício eucarístico.
Locais e idioma das celebrações
Contrariando a ideia comum de que a Missa era celebrada apenas nas catacumbas, registros mostram que também acontecia em edifícios privados que, posteriormente, se transformaram em oratórios. Em tempos de paz, surgiram igrejas, muitas voltadas para o oriente, com homens e mulheres em lados separados. Durante as perseguições, celebrações eram realizadas em catacumbas ou até em florestas.
O idioma litúrgico original foi o grego, sendo gradualmente substituído pelo latim a partir do século III.
Estrutura e evolução da liturgia
Nos séculos I e II, predominavam as orações espontâneas. A uniformização veio nos séculos II e III, consolidando-se no Oriente cinco ritos principais: bizantino, armênio, copta, sírio ocidental e sírio oriental. No Ocidente, o rito romano ganhou força e se tornou referência.
A Missa dividia-se em duas partes:
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Missa dos Catecúmenos – aberta a catequizandos e penitentes, continha orações, leituras e cânticos como o Kyrie eleison (em grego, preservado até hoje) e o Glória in excelsis Deo (registrado já em 130). As leituras incluíam epístolas de São Paulo, seguidas de gradual, aleluia, Evangelho cantado por diáconos e sermão do bispo. O culto era celebrado aos domingos desde a década de 150. O Credo, estabelecido no Concílio de Niceia (325), foi incorporado ao menos no século V. Após o sermão, os catecúmenos eram dispensados, em respeito à antiga disciplina do arcano.
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Liturgia dos Fiéis – parte central da Missa, onde ocorre a renovação do sacrifício de Cristo. As orações do ofertório já eram conhecidas no século III, e expressões como “Sursum corda!” (corações ao alto) datam da mesma época. O Sanctus já era entoado no século II, e o Cânon Romano, em voz baixa, atingia seu ápice na consagração.
O Cânon incluía ainda orações como o Te Igitur (século IV), os “mementos” pelos vivos e mortos, e o Communicantes, em memória da Virgem Maria, apóstolos e mártires. Após o Cânon, rezava-se o Pai-Nosso, havia o beijo da paz e a comunhão. O rito de São Pio V preservou muito da liturgia do século IV, incluindo o envio final com as palavras “Ite, missa est”. Em ocasiões solenes, os fiéis recebiam a comunhão sob as duas espécies, mas a comunhão apenas sob a forma do pão já era comum.
A consolidação do rito romano
Com a expansão do cristianismo pela Europa Ocidental, o rito romano consolidou-se ao longo dos séculos, atingindo sua forma definitiva no século XI. Em 1570, o Papa São Pio V normatizou a liturgia, instituindo a Missa Tridentina, que preservou a riqueza e a tradição acumuladas desde os tempos apostólicos.
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