Formação teve como objetivo levar aulas de cidadania, autonomia econômica e protagonismo político de mulheres periféricas do interior pernambucano
Por três semanas consecutivas, o Centro de Mulheres Urbanas e Rurais (CEMUR), em Lagoa do Carro, Zona da Mata Norte de Pernambuco, tornou-se território de resistência e reinvenção. O espaço acolheu o curso “Cidadania e Autonomia Feminina – um salto para o futuro”, que teve seu ciclo concluído no dia (17/4), reunindo 30 mulheres negras, cis e trans, entre marisqueiras, mestras de maracatu, bordadeiras e mulheres de terreiro, com o objetivo de impulsionar o protagonismo feminino em uma das regiões mais marcadas pela exclusão e violência de gênero no país.
Com carga horária de 15 horas e módulos voltados a projeto de vida, economia solidária, empreendedorismo e empoderamento político-social, a formação partiu de uma pedagogia inclusiva e decolonial, pensada para dialogar com os saberes e vivências das mulheres que atuam nos bastidores – e nas frentes – da cultura popular e da economia local. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023, Pernambuco figura entre os estados com maiores taxas de feminicídio proporcionalmente à população, com cinco cidades do interior no ranking nacional. A Zona da Mata concentra ainda elevados índices de violência doméstica, pobreza e desigualdade racial. Diante desse cenário, o curso funcionou como uma resposta política, coletiva e estratégica para fortalecer vozes historicamente silenciadas.
“O patriarcado é um projeto de poder. Formar lideranças femininas é romper com esse pacto histórico de invisibilidade, que deslegitima os saberes populares e relega essas mulheres à margem dos direitos e das decisões”, afirma Mauricélia Lino, idealizadora da iniciativa.
Com mais de três décadas de atuação em políticas públicas voltadas às mulheres, Mauricélia também foi gestora da Secretaria da Mulher de Pernambuco e articuladora junto ao Ministério das Mulheres e ao Governo Federal. O curso foi voltado para mulheres negras em situação de vulnerabilidade social, mas com atuação expressiva em seus territórios: mulheres que sustentam práticas ancestrais, criam filhos, alimentam comunidades, preservam saberes. Durante os encontros, discutiram não só temas como renda e liderança, mas também redes de apoio, segurança, cuidado e o lugar político de seus corpos e trajetórias.
Com acessibilidade em Libras e metodologia horizontal, a formação foi realizada com incentivo da Secretaria de Cultura de Pernambuco, Ministério da Cultura e Governo Federal, por meio da Política Nacional Aldir Blanc. Foi aprovada na Categoria Diversidade, Cultura e Periferia do edital estadual que visa descentralizar recursos e valorizar projetos oriundos das bordas. Ao final do curso, mais do que certificados, as mulheres carregaram para casa cheia de ferramentas. “Aqui a gente pode construir um novo olhar social e político sobre os nossos projetos, nossos sonhos, e também nossas leis”, contou Marineide Lino, educadora social, responsável por atuar na formação das participantes.
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