Morre o ator e diretor Antônio Abujamra, aos 82 anos, em São Paulo

Crédito: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

O ator, diretor e apresentador Antônio Abujamra foi encontrado morto na manhã desta terça-feira (28), em seu apartamento em São Paulo. Ele teria sucumbido a um infarto do miocárdio, de acordo com familiares, enquanto dormia. A cuidadora achou o artista desfalecido e chamou um dos filhos, Alexandre. Abu morava em Higienópolis, na Zona Oeste da capital paulista. Deixa dois filhos (um deles, o músico André Abujamra, autor da trilha de abertura do programa Provocações, apresentado pelo pai na TV Cultura) e dois netos. Abujamra se tornou conhecido na televisão e no teatro brasileiros por encenações e intepretações textuais com senso de humor de cunho crítico e ácido sobre problemas sociais. Do início dos anos 2000 até o falecimento, comandava o programa Provocações, na TV Cultura, no qual entrevistou famosos e anônimos, especialistas e leigos nos mais diversos assuntos. A atuação mais marcante na televisão ocorreu na novela Que rei sou eu? (com o inesquecível personagem Ravengar). Também participou de Cortina de vidro, Amazônia, Andando nas nuves e Terra Nostra, entre outras, além de dirigir Ninho da serpente e Os Ossos do barão, nas décadas de 1980 e 1990.

CARREIRA: Antônio Abujamra esteve à frente de 150 montagens. Nascido em Ourinhos, São Paulo, em 1932, começou a formação artística no Teatro Universitário de Porto Alegre. Perto de completar 30 anos, embarcou para a Espanha, onde estudaria literatura. Participou da Berliner Ensemble, companhia de teatro criada por Bertolt Brecht, dramaturgo dos mais conceituados no século 19 - a quem ele se referia com frequência no programa Provocações. Fundou o grupo Decisão, com influência de Brecht e tendência ao combate político, em 1962, mas teve o trabalho interrompido com o Ato Institucional número 5, ápice da ditadura militar brasileira.

Na televisão, trabalhou nas emissoras Record, Globo, Tupi, Bandeirantes e Manchete. Comandava há cerca de 15 anos o programa Provocações, com entrevistas intercaladas por depoimentos espontâneos colhidos nas ruas do país e declamação de poemas e textos de filósofos, pensadores, articulistas, cronistas, entre outros. A abordagem da conversa aprofundava a reflexão sobre mazelas sociais brasileiras e do mundo.

ESTILO: Na condução das perguntas, Abujamra, ácido ao extremo, evitava lugares comuns - como frases batidas em torno da esperança, sentimento apontado por ele como um dos culpados pela manutenção de problemas sociais - e apelos ao discurso dominante. Extraía dos entrevistados a essência, sem perdão aos depoimentos polidos usualmente oferecidos diante da câmeras. O roteiro de questionamento fazia uso recorrente de tiradas introspectivas, como indagar ao interlocutor se ele era feliz, se chorava, quem o fazia atravessar a rua ou em qual livro nunca se encontrou.

Abu ironizava a audiência e a longevidade do próprio programa. Debochava da liberdade de falar livremente e incitava os entrevistados a “se enforcarem na corda da liberdade” - quando muitos, tragados pela oportunidade, simplesmente calavam. Entre as perguntas mais incômodas, um flerte com a morte: “Como você gostaria de morrer?”. E ria de forma sádica das respostas fugazes, com insinuações sobre o destino trágico do interlocutor: “Você vai morrer com aqueles tubos enfiados no nariz”, provocava. Saiu de cena, no entanto, de maneira sutil, discreta. Quase uma provocação ao estilo aguerrido demonstrado no palco e na vida.

PRÊMIOS:

Juscelino Kubitschek de Oliveira, em 1959 (direção de A Cantora Careca, de Eugène Ionesco)

Melhor Ator por O Contrabaixo, de Patrick Suskind, em 1987

Kikito de Melhor Ator em Gramado, em 1989, pelo filme Festa, de Ugo Giorgetti

Melhor Ator de TV por sua participação como Ravengar na novela Que Rei Sou Eu?, de Cassiano Gabus Mendes, na TV Globo, em 1989

Molière, em 1991, pela direção de Um Certo Hamlet com o grupo Os Fodidos Privilegiados

Lifetime Achievement, em 1996, no XI Festival Internacional de Teatro Hispânico em Miami, nos Estados Unidos.

Confira Antônio Abujamra declamando o poema Impressiona-me a forma

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