Header Ads Widget

O PREÇO DA CARIDADE!


Já se foi o tempo em que fazer caridade era uma questão apenas de atitude. Estender a mão para o mais necessitado, uma palavra amiga, um pão, uma evangelização...
Já se foi o tempo em que as autoridades, muitas delas competentes, se preocupavam em estabelecer princípios básicos para a convivência humana solidária sem o tropeço ocasional dos burocráticos andamentos constitucionais que alavancam a expressiva dignidade dos que pesam a infalível caneta.
Já se foi o tempo em que derrubar barreiras, superar obstáculos alheios, ir além das próprias forças e achar no âmago o verdadeiro espírito fraterno de quem enxergam um mundo de paz, humanamente comprometido com a imagem e semelhança da boa vontade de ver um sorriso emplacado no rosto de cada cidadão.

É com esse sentimento que milhares de vicentinos, espalhados pelo mundo a fora doam preciosos minutos de suas vidas para socorrerem aqueles que padecem de auxílio. É com esse pensamento que nós vicentinos, humildes servos do Senhor, nos comprometemos dia após dia com o alívio na jornada de vida dos pobres.

Nos anos 50, se não estou enganado, vicentinos devotos e inteiramente preocupados com a situação dos que não tinham um teto e muitos deles nem um pedaço de pão, construíram a Vila dos cegos e aleijados de Limoeiro, a Vila de São Vicente de Paulo. Anos de histórias, de lutas pela causa solidária, tijolo por tijolo, telha por telha.

O que sugava o tempo e as forças, ao mesmo tempo exalava a felicidade de proporcionar para os não contemplados com a conveniência tributária, digo os pobres para ser mais exato, um lugar para viverem.

Quando pequeno, passava em frente à vila de carona no fusca branco da paróquia, dirigido pelo pároco e meu padrinho, não político, mas de batismo, Pe. Jorge Barbieri, hoje apenas Jorge Barbieri secretário de assistência social da prefeitura de Limoeiro. Eu via de longe a imagem da Santa lá no fundo e imaginava como seria do outro lado do portão. A curiosidade sempre se fazia presente mesmo no passar dos anos.

Nos anos 90 a convite das Consócias Marta e Conceição, conheci o movimento vicentino, até então desconhecido pra mim, mas logo depois da terceira reunião disse sim a causa onde estou até hoje, um simples e não menos importante membro da Conferência Santa Joana D’arc.

Mas aquela curiosidade sobre o outro lado do portão da Vila de São Vicente de Paulo permanecia como uma incógnita até que um dia, ou seja, numa noite fria na Granja São João, fui convidado para ser administrador daquela vila, seria eu, aquele garoto que passava de fusca, o responsável pelo andamento da vila, sob a batuta do empresário João Marques da Silva, um dos fundadores e fiel defensor da nossa vila. Presenciei muitos momentos de alegria e de dificuldades também, mas sempre superados com altivez dos que mesmo na dificuldade mantinham de pé o patrimônio da caridade. O próprio João Marques, não pensava e nem pensa duas vezes antes de arregaçar as mangas e colocar a mão na massa literalmente, seja consertando um telhado, seja caiando uma parede e até mesmo cedendo seus trabalhadores pessoais para a manutenção da vila.

Foram varias às vezes em que as autoridades de Limoeiro foram convidadas para conhecer detalhes da nossa vila e ajudar no que precisávamos, e ainda precisamos, e nada de chegar tal presença.

Os últimos prefeitos de Limoeiro, todos foram procurados, comunicados dos problemas e do desejo de tornar a nossa vila em um exemplo digno da causa da caridade e dos que lá sobrevivem às adversidades da vida.

Inúmeras reuniões, conversas, telefonemas e nada.

É incontestável a luta vicentina, e assim digo os vicentinos e vicentinas Sr João, D. Matilde, Conceição, Sônia e agora Marta, que diariamente procuram manter vivo o verdadeiro sentido da solidariedade dando um teto, precário eu sei, mas um abrigo para quem teriam em seu destino as ruas.

Mas assim como é o tempo, as ações também despontam, e de relatório em relatório eis que as autoridades, aquelas que são de direito competentes, declaram impróprias as condições da vila para a presença dos idosos. O Ministério Público assim decide pela interdição das moradias mantendo apenas as atividades vicentinas. Interessante seria se não fosse o breve prazo de 30 dias para solução e principalmente transferência de todos os que lá residem para outro abrigo.
A obrigação de cuidar, zelar, fazer com que a dignidade humana, mesmo que mínima, seja de fato garantida é do estado. O ponto x da questão não está na decisão, mas sim na incoerência de um documento em cumprimento legal sem se quer questionar oficialmente a parte principal.

Para os vicentinos não contestar os fatos é a lógica e assim será feito. No entanto a forma pela qual aconteceu a interdição é que pendura a sã consciência.

Que falta faz o Alacazan, talvez ele pudesse nos ensinar a mágica perfeita para solucionar tais problemas em tão pouco tempo e com isso garantir aos nossos idosos seu teto, seu lar, sua vida melhor.

Sou testemunha ocular da dedicação que a atual diretoria procura disponibilizar para a vila, das idas e vindas em busca de ajuda, inclusive a ajuda dos que mesmo procurados para a solução dos problemas, se mantiveram focados apenas no que relatar mediante visitas sem a presença dos representantes legais do patrimônio vicentino.

Este foi o preço amargo da caridade prestada por um grupo de vicentinos que apenas queriam e querem dar condições para que os mais necessitados possam pelo menos ter um teto para se protegerem do frio das noites e do calor dos dias.

Mesmo interditada, a vila será para sempre o patrimônio de todos os vicentinos, amplamente voltada para a causa dos pobres. E para aqueles que destilam poder, segue o pesar pela incoerência das atitudes formais e que nos próximos despachos sejam tratados por igual os dois pratos da balança, não transformando os fatos em mera propaganda dos macacos da china (não vejo, não falo, não escuto).

Apontar falhas é direito, porém proporcionar condições para que estas sejam solucionadas é dever. A omissão maquiada é tão quanto pior do que a má vontade de ajudar.

Pagamos o preço que nos foi cobrado por termos desejado ver um dia um pobre com um lar para morar.

Limoeiro, 18 de abril de 2011

Cfd. Paulo Pinto
Conferência Santa Joana D’arc – CP Limoeiro – PE
Ex-administrador da Vila de São Vicente de Paulo
 
Fonte: Aqui Notícia 

Postar um comentário

0 Comentários